Tradição e Inovação |
As livrarias continuam sendo os maiores vendedores de livros no Brasil com 51% do movimento do mercado. Mas de acordo com a 24ª Convençâo Nacional de Livrarias, para manterem a posição é preciso que elas se renovem com urgência e que o Estado crie leis que regulem o setor livreiro.
Os presidentes do SNEL, ANL, CBL e LIBRE debatem a lei do preço fixo para a regulamentação do mercado
Com o nome “Atitudes que geram resultado” a Convenção teve palestras sobre melhoria nas atitudes individuais e outras sobre parcerias e casos de sucesso no ramo livreiro como o da Blooks, livraria da Zona Sul do Rio, que abriu filial com o dobro do tamanho na capital paulista. Ao término do encontro, com o anúncio pela presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros, Sonia Jardim, de que a Amazon iria inaugurar seu site de livros físicos no dia seguinte “com preços arrasadores” a regularização do setor pelo Estado passou a ser o tema principal do debate, mostrando que é preciso haver união. Além de Sonia Jardim, SNEL, estavam na mesa o presidente da Associação Nacional de Livrarias, Ednilson Martins, a presidente da Câmara Brasileira do Livro Karine Pança e o Presidente da Liga Brasileira de Editores Independentes , Haroldo Sereza. A presidente do SNEL prometeu fazer um plesbicito entre as editoras associadas sobre a questão mas teme a regulação do Estado que para ela pode se transformar em um sistema de cotas . Acredita que muitos projetos de lei acabam deformados: “ entra gato e sai cachorro”. A presidente da CBL, Karine Pança lembrou que é preciso ter cuidado com sutilezas jurídicas a começar pelo nome “lei do preço fixo” com o qual o projeto não pode ser aprovado e propôs alternativas como “política de regulamentação do preço do livro”. Disse que é preciso trabalhar em conjunto olhando para o coletivo. Haroldo Cereza, da LIBRE também é a favor de uma lei pois para ele o mercado não pode se regular sozinho. Ele acha que com a lei o que era até recentemente uma guerra de todos contra todos deve se acabar. Ednilson Martins, presidente da ANL, acredita que ,como estamos em ano eleitoral, a apresentação de um novo projeto de lei sobre o preço fixo do livro deve ficar para o ano que vem enquanto que para alguns livreiros presentes como Glaucio Pereira, diretor da AEL, isso deveria ser feito imediatamente. Em uma intervenção da platéia aplaudida pelo público a diretora da AEL Milena Duchiade reiterou a necessidade de uma regulação do mercado pelo Estado lembrando que terra sem lei é terra de bandido. Para ela, o que acontece com livros e jornais, que têm o mesmo preço em qualquer lugar, deve acontecer também com o livro. A própria Milena participou do debate na mesa anterior como interprete do livreiro francês Jean Marie Ozanne que fez um relato sobre a experiência da lei do preço fixo na França, conhecida como Lei Lang, em homenagem ao ministro da cultura que a criou em 81. Jean Marie disse que não fosse pela lei sua livraria teria abrido falência dada a concorrência feroz de grandes redes como a FNAC, mas lembrou que lá a lei foi feita para proteger o editor e que a principio a Federação Francesa dos Sindicatos dos Livreiros era contrária a ela. Hoje, segundo ele, todos são a favor da lei porque entendem a livraria como espaço importante para a sociedade. Diz que a internet é um ambiente gelado ao qual os livreiros contrapõem um espaço quente. Outra atração internacional da Convenção foi Oren Teicher, presidente da American Booksellers Association que veio com boas notícias. Nos Estados Unidos, onde a Amazon tem suas raízes está havendo o que ele chamou de uma renascença de livrarias independentes, contrariando tudo que se imaginava vir a acontecer. Mas garantiu que as livrarias independentes de 2014 não têm muito a ver com as que existiam no final do século passado. Hoje, segundo ele, se a livraria não existe on line ela não existe como negócio e não pode deixar de ter o livro digital para reter o cliente. Oren Teicher acredita que a tendência é o leitor ler tanto no digital quanto no papel Ele falou do movimento tipicamente americano de localismo, buy local, que primeiro prestigia o comércio e os produtos do local para só depois recorrer às grandes redes. A tendência Indies First, independentes primeiro, também tem feito com que autores priorizem as livrarias independentes no lançamento de suas obras. A proposta “Atitudes que geram resultado” da 24ª Convenção de Livrarias foi não só para os livreiros mas para o próprio encontro que pela primeira vez aconteceu fora das capitais , em uma estância turística no município de Itapecerica da Serra estado de São Paulo. A ideia foi juntar trabalho e lazer mantendo os participantes unidos em um mesmo local. Houve cerca de 160 inscritos que começaram a chegar na noite de segunda feira para os dois dias de programação na terça e quarta. Outra inovação foi a nova logo marca da ANL apresentada durante a Convenção. Segundo o diretor da ANL Afonso Martin, autor da logo, a anterior, com 35 anos, com projeto gráfico em três dimensões estava ultrapassada. Agora o nome vem chapado mas, para manter a tradição, o formato da fonte foi pouco alterado e o verde permanece. Como inovação foi acrescentado um livro aberto por tráz do nome ANL . O presidente da ANL inaugurou a 24ª Convenção após a execução do Hino Nacional para o auditório lotado. Disse que o grande drama do nosso mercado é a falta de leitores e que ao venderem direto para o cliente as editoras eliminam a possibilidade de que este entre em contato com outras obras como acontece em uma livraria. Segundo Ednilson, a última pesquisa feita pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da USP , mostra que em 2013 as livrarias continuaram como principal canal de comercialização do livro com 51% do mercado, mas as pequenas estão excluídas das transações dos grandes grupos editoriais. Antonio Carlos de Carvalho, presidente da AEL reclamou do amadorismo do mercado. Disse que a qualidade do livro é incontestável mas que se as editoras trabalhassem melhor poderia vender mais 20% pois muitas vezes o cliente está na loja mas o livro encomendado à editora não chegou. No salão anexo ao das conferências, onde se realizaram os coffee breaks, foram montados os estandes das editoras com catálogos e lançamentos. Entre os brindes dados aos conferencistas o destaque foi para a publicação editada pela Libre; “Proteger o livro” de Markus Gerlach que, em cerca de 100 páginas, fala sobre a lei do preço fixo A introdução à edição brasileira diz que a violenta crise na indústria editorial é a mais grave de todos setores produtivos do país e que os empresários são incapazes de reclamar qualquer tipo de política setorial. Diz que “as entidades do setor se portam com a fidalguia do nobre esmolambado que tudo perde, menos a pose”. Além de livreiros, editores e distribuidores a Convenção teve a participação de jornalistas como Leonardo Neto, editor do Publish News, também hospedado no hotel. Ele destacou a importância de serem transmitidos dados sobre o mercado em um evento como esse como nas palestras sobre o Sebrae e as pesquisas da GFK. Na palestra sobre o auxilio dado aos comerciantes pelo SEBRAE , Mileide Flores, livreira do Ceará, relatou a experiência de inovar sua livraria que tem 58 anos com a ajuda da entidade através dos agentes locais de inovação que acompanham a empresa durante 30 meses. A GFK – Growth from Knowledge – uma das cinco maiores empresas de pesquisa do mundo apresentou dados referentes ao primeiro semestre de 2014 no mercado livreiro brasileiro destacando que o setor infanto juvenil continua crescendo e é o motor desse mercado. A Convenção reuniu livreiros de Norte a Sul do país e os fluminenses chegaram de carro, como Cristiano Massa, da Livraria Edital, acompanhado da mulher e da filha recem nascida ou de avião. Sergio Santos Silva venceu o medo de voar nessa época, segundo ele, de tantos acidentes aéreos e foi de avião junto com a mulher Danielle sua sócia na Livraria Castro Alves em Araruama. Gostou do hotel a ponto de estender a estadia além dos dias do encontro e sugere que ano que vem, na vez do Rio, a Convenção seja em Búzios. |