O nosso presidente |
No terceiro mandato como presidente da AEL, Antonio Carlos de Carvalho, da rede Galileu, faz um relato das dificuldades do mercado que vão do amadorismo à política de exclusão das livrarias por algumas editoras. Ele acredita que a regulagem do Estado possa ajudar o mercado mas não se pode contar só com ela.
Há 40 anos no mercado, Antônio Carlos, critica a falta de mão de obra qualificada para vender o livro
O amadorismo do nosso mercado, onde editores, livreiros e distribuidores batem cabeça diariamente, se atrapalham com coisas simples, perdendo ótimos negócios, é só uma das dificuldades dos que se dedicam ao produto tão especial que é o livro . Temos à frente das empresas muita gente competente, que entende do assunto , mas também muitos que acreditam que vender livro , banana ou iogurte seja a mesma coisa . Sabemos que não é . A Lei do Preço Fixo , praticada com sucesso em vários países , irá ajudar muito a colocar um pouco de ordem na casa , mas não basta . Temos grandes problemas operacionais que nos fazem perder todos os dias grandes negócios e oportunidades. Os livros mofam nos depósitos das editoras e as livrarias sem poder atender ao cliente. Pior de tudo , normalmente não recebem nenhum feedback sobre quando, ou mesmo se receberão o livro um dia . Ninguém informa às livrarias que poderiam então dar uma previsão aos clientes. Com certeza, as grandes redes devem ter um atendimento diferenciado pelos editores. Mas estes não precisavam tratar as pequenas e médias livrarias com tanto desprezo . Este ano completei 40 anos no ramo do livro. Vi muita coisa boa e ruim acontecer que, com certeza, mudou para sempre nosso mercado. Vi uma invasão de editoras estrangeiras atraídas pelas compras governamentais . Editoras que começaram um processo de aniquilamento das livrarias com a venda de livros didáticos As que já estavam no Brasil gostaram da idéia de vender direto para as escolas , em condições sequer pensadas pelas livrarias , deixando suas parceiras no prejuízo . O mesmo se dá com os livros universitários vendidos nas universidades . A briga continua e cada vez mais as editoras se distanciam das livrarias . Pessoalmente lutei muito contra isso , esse tempo todo e nada melhorou . Aprendi que o melhor jeito de lidar com esses editores é dando o mesmo tratamento que nos dispensavam. Aprendi a trabalhar muito bem sem livros didáticos, mudei o layout e o perfil de minhas lojas. Vi que perdi muito tempo lutando à toa , já que a intenção dessas editoras nesse mercado sempre foi a de se livrar de uma vez por todas das livrarias. Ocorre que muitos deles tem produtos que querem empurrar para as livrarias . Tirei o espaço para esses produtos. Descubro a cada dia ser esse espaço mais valioso e disputado . Não adianta vender bem , ser bom pagador e bem organizado . Com o número absurdo de livros novos todos os dias , o espaço físico é o que importa. A partir de agora, só trabalho com editoras que nos dão as condições que queremos , não as que elas querem . Hoje trabalho melhor , mais tranqüilo e com um resultado muito bom. Porém, o que tem dificultado muito é a mão de obra . Está difícil encontrar alguém disposto a trabalhar com afinco e dedicação . A rotatividade é enorme e a qualidade decepciona. Como dependemos de bom atendimento , é cada vez mais necessário um bom sistema de informática para gerir o negócio e ajudar nas vendas das lojas. Tenho conseguido isso , criando meus próprios programas em casa . As livraria muitas vezes são vítimas do sistema, mas ficar parado não resolve nada. Temos de fazer o dever de casa todos os dias e não ficar esperando benesses dos editores ou do governo . |