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Depois da crise

 

A 26ª Convenção Nacional de Livrarias mostrou que crises como a por que passou a ANL no começo do ano com mudança repentina da diretoria pode gerar benefícios. O evento esteve revigorado. Além das dificuldades do  mercado livreiro  a convenção abordou também as crises do Brasil.



Diretoria da AEL na Convenção: a partir da esquerda,Isaque Lerbak, tesoureiro, Solange Wheihabe vice-presidente e Glaucio Pereira, presidente


Todas as entidades presentes ligadas ao livro apoiam a criação da Lei do Preço Fixo para o Livro mas estão cientes de que sozinha ela não irá salvar o mercado. Livreiros cobraram mais profissionalismo das editoras enquanto o presidente do SNEL, Marcos Pereira  cobrou o mesmo das livrarias.

A Convenção que geralmente tem dois dias foi  reduzida este ano para um, no Hotel Unique, em São Paulo. Em um salão com três telões e som de qualidade, o  público  foi acomadado em mesas, onde também foi servido o almoço.

Seis editoras mostraram seus lançamentos no saguão anexo , local  dos coffee breaks , o  que possibilitou mais interação  público - expositores. Com o tema A Livraria do Futuro, a convenção teve novidades tecnológicas como e-reader Lev no estande da Saraiva e o catálago da Melhoramentos distribuído ao público em um pen drive.

A CBL montou um estande com livros premiados com o  Jabuti no ano passado e promete uma parceria com as livrarias para alavancar as vendas dos próximos concorrentes ao prêmio através de um selo na capa que será uma forma de curadoria.

O novo presidente da ANL, Bernardo Gurbanov falou, na abertura ,da necessidade de procurar caminhos afirmativos para o mercado  e que o próprio tema da convenção, Livraria do Futuro , é afirmativo e não um questionamento.

A jornalista Mirian Leitão, primeira convidada, teve seu último livro A História do Futuro distribuído entre os participantes.  Lembrou, antes de analisar as crises recentes da econômia brasileira, ser mãe do autor do livro A Lava Jato,Wladimir Netto, primeiro lugar na  lista de não- ficção.

Segundo Mirian,  o Brasil vive hoje crises gêmeas, na economia e política. A solução para a segunda  depende da  Operação Lava Jato que pode também respingar no governo Temer. A culpa da crise econômica é,  para ela, exclusiva da desorganização das contas públicas no governo Dilma.

Mírian  deu a boa notícia de  que segundo o Instituto de Desenvolvimento do Varejo, o consumo  parou de cair nos últimos dois meses e em setembro as vendas se estabilizam.

“Ano que vem será o começo da recuperação, uma luzinha no fim do túnel. O Brasil parou de piorar. O índice de confiança do empresário do comércio voltou a subir e a intenção de consumo das famílias melhorou, mas o desemprego só melhora ano que vem”  disse ela.

Crises são episódicas. Segundo Mírian ,as que  afetaram o país desde os anos 80 mostraram que o Brasil tem vocação para o crescimento, o  que sempre acontece depois de superá-las.

Em seguida, na mesa sobre a Livraria do Futuro,  falaram três livreiros. Marcos Pedri, da Livraria Curitiba  ressaltou a importância de se fazer o óbvio, que muitas vezes é deixado de lado. E que também é preciso ver o presente já que  todo prognóstico depende de um diagnóstico.

Criticou os e-commerces que vendem livros abaixo do preço de compra. Disse ser um modelo irracional  de negócios , sem futuro, muitas vezes bancado pelas próprias editoras.

Para Benjamim Magalhães da Livraria da Travessa os tempos são de intenso nevoeiro e é preciso conduzir o barco devagar. Criticou o relacionamento livrarias – editoras que segundo ele, deveria ser como uma relação de marido e mulher, com total confiança apesar das brigas eventuais.” Para pagarem suas contas as editoras atropelam as livrarias”, reclamou.

A crítica mais contundente de Benjamin foi para a Amazon que, segundo ele, não quer saber do comércio, não quer relacionamento com ninguém.  Quer ser a dona da festa. “Só com a união de editores e livreiros vamos conseguir acabar com essa força bruta que é a Amazon, que não quer negociar” disse ele.

Marcos Telles  informou que sua rede, a Leitura, vai crescer 4% este ano, porque abriu novas lojas. Foram inauguradas 8 em diferentes cidades e fechadas 3. A  nova loja em Bangu, no Rio de Janeiro, foi segundo ele, uma grata surpresa  e faz sucesso junto ao púiblico C e D.

Outra mesa com profissionais do mercado livreiro encerrou a Convenção, com certo atraso. Nela o presidente da AEL, Glaucio Pereira exibiu um vídeo  com reinvidicações para  o futuro próximo das livrarias.

A lei do preço fixo é a grande prioridade e Gláucio lembrou  que a AEL foi a primeira entidade no Brasil a reivindicá-la  quando entregou um abaixo assinado com a proposta no 3º Encontro de Editores e Livreiros no Costão do Santinho, em Florianópolis, em 1999.

Segundo ele, a livraria do futuro deve estar isenta de IPTU, como acontece com as editoras no Rio. As optantes do Simples não terão de pagar PIS e COFINS e  as livrarias terão crédito no BNDES para compra de livros.Nesse futuro, que se espera próximo, serão as livrarias as intermediárias das compras do governo e não as editoras como ocorre hoje.

No  mesmo vídeo, a ex- presidente da AEL, Milena Duchiade, reinvidicou mais profissionalismo da indústria do livro  e traçou paralelo com a indústria do cigarro que tem excelente capilaridade e fornece o produto ao mesmo preço em qualquer parte do Brasil. Disse que o frete também é uma questão relevante e que encontros como a convenção devem gerar mais ações práticas.

O vídeo da AEL informa sobre a parceria inédita da entidade com o SNEL na realização, este ano, do I Festival das Livrarias do Rio, que durante todo o mês de maio promoveu eventos em 15 livrarias cariocas. Parcerias como essa, entre segmentos do mercado livreiro é, segundo o vídeo, a chave da nova ordem econômica.

Daniel Louzada, o novo dono da Livraria Leonardo da Vinci,  informou, também em vídeo, que ela será reinaugurada no começo de setembro e que está otimista. Disse que,como livreiro independente , apoia a Lei do Preço Fixo e criticou a política cultural do atual governo federal.

Marcos Pereira, do SNEL, comentou a análise da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da USP sobre os 10 anos de Produção e Venda do Mercado Editorial no Brasil. A constatação  é que nesse período o mercado editorial teve crescimento inferior ao do PIB do país.

Para Solange Wheihabe,   vice-presidente da AEL, a  convenção  teve boa oorganização mas houve melhores quanto ao conteúdo.  Ela questionou a ausência de uma discussão mais aprofundada sobre a Lei do Preço Fixo para o Livro.

O primeiro debate da tarde “Autores e seus leitores” com Affonso Romano  de Sant’anna, Marcelo Rubens Paiva e mais representantes da nova geração como F M L Pepper  e o youtuber  Leo Bacci não acrescentou muito a quem quer discutir o mercado.

Affonso Romano, o mais experiente da mesa , contrariando especialistas do mercado disse que o livro é um acidente e que o mais  importante é a leitura. Desinformado, afirmou que “ A Rocinha, uma favela do Rio tem 110 lan houses”, quando na realidade são as lan houses que estão desaparecendo devido a facilidade de celulares com internet.

Mas a Convenção Nacional de Livrarias é principalmente um meio de socializar os vários agentes do mercado livreiro o que proporciona um enriquecimento paralelo ao que é oferecido na programação. Questionado por um colega de São Paulo sobre o que o atraia para a convenção, Isaque Lerbak, tesoureiro da AEL foi categórico; “Vim te ver”.

 

Abaixo o vídeo exibido pela AEL na mesa Nova Ordem Econômica