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O  governo do estado quebrou minha  livraria

 

A crise do governo estadual no Rio de Janeiro me fez fechar, pouco antes do carnaval,  a Livraria República que até  2014, foi um próspero empreendimento com boas perspectivas de expansão mas que adentrou 2017 em total bancarrota.

A Livraria República não quebrou em função de má gerência, de crise econômica, de irregularidades no mercado livreiro, de concorrência das novas mídias, ou das máquinas de fotócopias em cada um dos dez andares da UERJ.

Quebrou pela incompetência do  governo que agora se afunda em crise e leva inocentes  junto. Para mim o ano de 2017 deveria ser de comemoração: a Quartet, minha editora faria 25 anos. Mas contaminada pelas dívidas da livraria também  teve de ser fechada.

A Livraria República ,  inaugurada em 2010, estava no hall central  da UERJ,  que tinha  uma circulação diária de cerca de 33 mil pessoas. Vendíamos uma média de 180 livros por dia mais a renda da papelaria e do serviço de café e lanchonete dentro da loja.

Em 2016, as greves  dos funcionários da UERJ que não recebiam os salários do  governo  estadual paralizaram a universidade por cerca de 7 meses. O faturamento do ano foi equivalente a apenas dois meses dos outros anos.

No  curto tempo em que a universidade funcionou tivemos  alunos e professores desmotivados. Os professores, nossos principais clientes, estiveram pouco propensos a gastar com livros, inseguros quanto ao recebimento dos próximos salários.

Durante a greve recorri a vários empréstimos bancários, confiante no potencial  da livraria e certo de que a situação se reverteria depois das Olimpíadas. Venci a licitação para ocupar o espaço por mais dez anos e tinha planos de  construir um bistrô na lateral da loja.

Em dezembro de 2016, a crise continuava e , já sem crédito, consegui um acordo com os bancos esperançoso que este ano a situação mudasse. Mas, depois de vários adiamentos a UERJ ainda não reiniciou as aulas e não houve como continuar nadando num oceano de dívidas.

Ao fechar a Livraria República renuncio aos cargos de diretor secretário da Associação Nacional de Livrarias e de presidente da Associação Estadual de Livrarias RJ, onde mostramos que crise não é empecilho para criatividade e empreendedorismo.

Em 2016, ano crítico para muitos,  a AEL RJ organizou o 1º Festival das Livrarias do Rio, evento que promoveu atividades em 15 livrarias cariocas durante todo o mês de maio com repercussão na mídia e apoio do Sindicato Nacional dos Editores de Livros.

A AEL RJ foi a primeira entidade a apoiar a Ler – Salão Carioca do Livro que aconteceu com grande sucesso em novembro de 2016 e teve estandes de vendas de  12 livrarias associadas.

Em 2016  iníciamos a edição do  Guia das Livrarias Cariocas, livro que será lançado em breve com a lista das 205 livrarias que existem hoje no município. Ele será vendido nas próprias livrarias e vem acompanhado de mapa com a localização de cada uma.

Durante todo o ano passado participei da elaboração do Plano Municipal do Livro Leitura e Biblioteca como representante da cadeia produtiva do livro colocando em pauta reinvidicações das livrarias como :

Isenção de ISS para produtos relacionados com o livro, isenção de IPTU para as livrarias, como já acontece com as editoras; remanejamento das feiras de livros para áreas em que não concorram com livrarias e reconhecimento das livrarias como pontos de cultura.

Em 2016, apesar da crise, foram inauguradas seis novas livrarias no Rio de Janeiro o que mostra que há espaço para o livro e para novas iniciativas. Mas competência, empreendedorismo e criatividade não são suficientes quando se tem  o governo para quebrar a sua firma.

 

Glaucio  Cunha Cruz Pereira