Na galeria das livrarias A galeria do Edifício Marquês de Herval, no Centro, virou polo de livrarias com quatro lojas; Berinjela, Disal, Leonardo da Vinci e Martins Fontes, e outras livrarias têm mostrado interesse em juntar-se à elas.
Acima, as livrarias Disal e Leonardo da Vinci; abaixo a Martins Fontes e Berinjela, no Marquês de Herval
Inaugurado em 1956 na Avenida Rio Branco 185, o Marquês de Herval tem destaque na história da arquitetura carioca como um dos primeiros edifícios da cidade no estilo Moderno e o primeiro com lojas no subsolo. A Livraria Leonardo da Vinci, fundada quatro anos antes, no 18º andar de um prédio na Avenida Presidente Vargas se mudou para o Marquês de Herval no ano da inauguração do edifício e foi a primeira loja a funcionar na galeria . Alí, se tornou uma das mais tradicionais livrarias do Rio sob o comando da livreira Vanna Piraccini, sucedida pela filha Milena Duchiade, que ficou à frente do negócio até 2016 e vê com entusiasmo a galeria ocupada por outras livrarias. “Em São Paulo existe a Galeria do Rock, em Copacabana temos o Shopping dos Antiquários; esse tipo de comércio por afinidade é muito bom para o consumidor”, diz Milena. Ela ressalta a centralidade do ponto que tem estação do VLT e do metrô em frente. “O Centro é o coração do Rio”, garante; “ a Prefeitura precisa estar atenta a isso e ocupar melhor a região”. Segundo Milena, o Marques de Herval é um prédio misto, com salas comerciais e residênciais e o modelo poderia ser estendido a outros prédios da região. A Disal é a mais nova livraria do edifício; chegou em novembro, vinda de Botafogo, onde funcionou por 10 anos. Segundo a gerente Zilda Gomes o espaço é três vezes menor mas o ponto melhor que o da rua Real Grandeza onde não havia movimento. A estreia no novo endereço teve bom faturamento nos meses após a inauguração; a Disal deu destaque aos livros infantis, que não são o foco das livrarias vizinhas e, com a volta às aulas também houve boa saída dos livros de idiomas, o seu forte. O acervo ainda tem best-sellers, vendidos dentro da tabela pois, segundo Zilda, a empresa , que também é distribuidora, não quer concorrer por preço com as livrarias clientes. São 21 lojas da Disal no Brasil, três inauguradas ano passado, duas em São Paulo e uma no Paraná. Ao seu lado, na galeria, está a Livraria Martins Fontes, ligada a editora do mesmo nome que também tem outra loja em São Paulo. A filial carioca funcionava no Leblon e, segundo a gerente Lucilene Rodrigues, lucrou com a mudança para o Centro já que o acervo na área de humanas tem boa procura pelo público universitário da região. “Na Zona Sul o cliente queria mais livro de autoajuda, arte e obras que estão na moda, o que não é nosso foco” diz ela. “Aqui, quando não temos, indicamos para as nossas vizinhas “. Segundo Lucilene as livrarias na galeria tem perfis diferentes e são parceiras; “ Fomos nós que indicamos o espaço para a Disal”. A Berinjela é, depois da Da Vinci, a livraria mais antiga na galeria, alí há 24 anos. Sua especialidade são livros usados e também Cds e Dvds. Mas, ao contrário dos sebos mais generalistas do Centro, tem foco em literatura e humanidades e tradição em agitos culturais, tendo até editado a revista de poesia Modo de Usar. Seu proprietário Daniel Chomsky, diz estar tentando com a direção do Edifício Marquês de Herval que o prédio seja divulgado como um polo de livrarias.Porém, ao contrário de suas vizinhas mais novas ele se queixa do fraco movimento nos últimos três meses, que atribui às crises nacional e municipal. Com ele concorda seu xará Daniel Louzada que, desde 2016, é o dono da Livraria Leonardo da Vinci, outra que capricha nos eventos culturais: “O comércio está péssimo, as pessoas estão sem dinheiro e o livro é cortado. Não temos apoio, nem 1% de desconto no IPTU. A prefeitura não faz nada.” A Leonardo da Vinci é a livraria âncora da galeria com serviço de bistrô e cerca de 16 mil títulos. Estar em um polo de livrarias é, segundo Daniel, interessante, mas o edifício dificulta a divulgação e não permite sinalização externa para atrair os transeuntes. O síndico do Marquês de Herval, Elidio Moreira, disse que só poderá se manifestar sobre o assunto depois das eleições do condomínio marcadas para abril. Enquanto isso, duas lojas na galeria, uma grande e outra menor, continuam vazias e sendo visitadas por livreiros. Um destes foi Roberto Neves, da Hórus, livraria que segundo ele, é a única na cidade especializada em esoterismo e está há 43 anos na rua Senador Dantas, no Centro, mas terá de partir para novo endereço por causa do aumento no aluguel. Roberto afirma que a Hórus possui público fiel formado principalmente pelos funcionários de empresas públicas da vizinhaça e tem esperança de encontrar um parceiro para o negócio; “sozinho não dá mais para arcar com o valor do aluguel de uma loja” Outro livreiro que se interessou em se unir às livrarias do Marquês de Herval foi Ricardo Pereira, da Academia do Saber, rede de três lojas de livros usados na região da SAARA, no Centro. Cada uma é administrada por um irmão e agora Ricardo quer abrir mais uma para o filho Rian, que entrou para o ramo e se identificou com o ofício de livreiro.
4/04/2018 |