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AEL abre as portas para a LIBRE


A Associação Estadual de Livrarias  passou a  dividir  o espaço de sua sede com a  Liga Brasileira de Editoras e o mercado livreiro do Estado do  Rio vai ter novidades com a proximidade física entre as duas entidades.

 

 

Editoras independentes reclamam de não conseguir colocar seus livros nas livrarias, mas quando há espaço elas são bem-vindas como foi o caso da AEL que dispunha de uma sala  com entrada independente com pouco  utilização que agora  é  ocupada pela LIBRE.

As duas entidades estão em área nobre do Centro, ao lado do Teatro Municipal, de frente para a Câmara dos Vereadores, em endereço que remete à história do mercado livreiro carioca.

A rua  tem o nome do jornalista, poeta e político,  Evaristo da Veiga um dos primeiros livreiros da cidade; junto com o irmão, João Pedro, era dono da João Pedro da Veiga e Comp. que começou a anunciar livros na imprensa carioca em 1823.

Evaristo da Veiga também foi o mecenas de Francisco de Paula Brito, tido por Machado de Assis como o primeiro editor brasileiro digno do nome. Na época em que romances eram publicados  como folhetins em jornais, Paula Brito, que também foi livreiro, editou, em 1842, o primeiro romance brasileiro, “Um roubo na Pavuna”, de Luis Alves de Azambuja Susano.

A proximidade entre as duas entidades promete sinergia.  A LIBRE é formada por editoras independentes e a AEL, embora agregue também as grandes redes, sempre teve na presidência livreiros independentes. E vale lembrar que Evaristo da Veiga é  também o  autor da letra do Hino da Independência.

A  LIBRE já aderiu à luta da AEL pela isenção de IPTU para as livrarias mobilizando  a vereadora Verônica Costa para, junto com o vereador Reimont, que representa a AEL nessa reivindicação,  tentar sensibilizar as autoridades municipais pela causa. As editoras cariocas já são isentas de IPTU.

Também planeja aproximação entre as editoras independentes  e livrarias promovendo Encontros de Livreiros  para apresentar lançamentos. Segundo a  Diretora de Comunicação da entidade, Paula Cajaty, da Jaquatirica, as independentes farão em conjunto o que as grandes já fazem individualmente.

Paula esteve em Portugal  e se impressionou com o  trabalho dos livreiros que participam ativamente dos lançamentos;  o livro tem de estar no mínimo trinta dias  antes na livraria que é quem faz a maior parte do trabalho de divulgação. Ela  foi surpreendida por uma nota sobre o lançamento do seu livro infanto-juvenil na revista de bordo da TAP.

No Rio, a maior parte desse trabalho  é do editor e Paula cita entre as livrarias receptivas à produção independente a Blooks, Leonardo da Vinci e Travessa Botafogo, onde há um público interessado na produção de conteúdo nacional. Mas pretende ampliar a área de atuação até as livrarias da Zona Oeste.

AEL e LIBRE também estão articulando uma forma de promover o livro e a leitura, especialmente neste mês de abril, em que há o Dia Internacional do Livro, 23. Mas  existem também ideias para promoções ao longo do ano.

Mas, a relação entre as duas entidades já teve momentos de tensão. Em outubro de 2001 o jornal O Globo publicou matéria sobre a polêmica em torno da primeira edição da Primavera dos Livros: “ Livrarias criticam os descontos da Primavera”.

O texto fala da carta aberta assinada pela então Secretária da AEL, Milena Duchiade, ex-Leonardo da Vinci, protestando contra os descontos que os cerca de 60 editores dariam ao público na feira, na época montada no Jockey: “Nos parece concorrência desleal com seus parceiros tradicionais”, dizia a carta.

Rui Campos, da Travessa, também citado na matéria disse: “ Um fim de semana não atrapalha muito mas a nossa preocupação maior é com o precedente. Como as lojas vão sobreviver se o fabricante vende diretamente ao público”.

Hoje, Milena diz que com o tempo os livreiros passaram a aceitar melhor a feira, que por questão de direitos autorais mudou o nome para Primavera Literária e  foi transferida para o Museu da República; “ Entendemos que as livrarias independentes não conseguem acesso às livrarias e precisam escoar sua produção.”, diz.

A presidente da LIBRE, Raquel Menezes, lembra que são apenas 4 dias para as independentes  enquanto as livrarias tem o resto do ano e que o evento tem também a função de formar leitores apresentando o catálogo das independentes.

O presidente da AEL, Antonio Carlos de Carvalho, da Galileu, tem uma loja no Largo do ´Machado a pouca distância do Museu da República onde é promovida a Primavera Literária e diz que embora não tenha como mensurar, com certeza sofre algum prejuízo.

Recentemente ele deu uma repaginada na loja e a deixou mais clean para melhorar a experiência do consumidor. Garante que no seu caso a ausência de editoras independentes se deve à falta de espaço; “Na reformulação da loja procurei dedicar a maior área aos livros infantis que são hoje o meu carro-chefe”.

Hoje a feira que mais preocupa a AEL é a tradicional Feira do Livro, montada em diferentes regiões nobres da cidade por períodos de um mês; há muito ela desobedece requisitos da lei que a criou, como o de cada barraca de expositor representar uma livraria.

Atualmente  a Feira está no Largo da Carioca, região de maior número de livrarias da cidade; há cerca de cem metros, na Avenida Rio Branco, por exemplo, estão as quatro livrarias do edifício Marquês do Herval; Berinjela, Disal, Leonardo da Vinci e Martins Fontes.

Silvia Chomsky, sócia da Berinjela, que vende livros usados, como  os da Feira, está indignada porque  ao sair do Largo da Carioca, no próximo dia 10,  a Feira será montada na Cinelândia onde ficará por  mais um mês.

Daniel Chomsky sócio de Silvia, acionou a subprefeitura do Centro em nome da AEL mas não obteve resposta ao e-mail. O Roteiro oficial estabelecido por lei diz que o outro  local para a feira no Centro é o Paço Imperial mas, segundo Silvia, a Feira foi expulsa de lá pelo IPHAN e em troca ganhou “de presente” o ponto no Largo da Carioca onde há mais livrarias por perto.

Para Silvia o problema não é só a concorrência com os livros já que o acervo da Feira, segundo ela, não tem tido renovação; “ela prejudica o comércio do entorno como um todo  pois muitos deixam de almoçar para pesquisar livros e nessa hora a loja fica vazia.”

As oito barracas no Largo da Carioca realmente  não oferecem muito atrativos, uma busca por um exemplar usado do A sutil arte de ligar o f*da-se, de Mark Manson, há meses  no topo da lista dos mais vendidos se mostra infrutífera, embora um vendedor aceite encomendar um exemplar novo por R$ 25.

Silvia informa que há cerca de um mês também está montada uma grande tenda no Largo do São Francisco com duas barracas da Feira e algumas mesas. Para ela , essa bagunça mostra que quem ligou o f*da-se foi o prefeito Crivella. Ela lamenta a sorte do seu colega  que tem duas livrarias perto do Largo do São Francisco; “ O Luizinho é quem deve estar sofrendo”.

Mas Luis Jorge Barreto  dono de duas lojas Letra Viva, há poucos metros do Largo do São Francisco, também questiona a qualidade da feira diz que o preço deles não é  bom; “Lá o saldo  está a R$ 5,00 e aqui a R$ 2,00; quando aparece alguma coisa interessante, compro para revender aqui.” Ele no entanto, lembra que a Feira esteve por um mês no final do ano passado no Largo do São Francisco e mais as temporadas no Largo da Carioca e Cinelândia somam três meses por ano na região.

A Feira do Livro, que começou em 1957, com 42 barracas, cada uma representando uma livraria ou editora  está  em  decadência por ter se tornado cara e não ter rotatividade na sua diretoria. Segundo Luis, foi apropriada pelo presidente da Associação Brasileira do Livro, Adenilson Cabral e seu irmão Adeilson Cabral.O site da ABL mostra os dois como únicos membros da diretoria da entidade, um presidente, o outro secretário; os dois à frente das livrarias Cabral e F&B Irmãos Associados que não conseguiram ser localizadas pela AEL  na época da edição do Guia de Livrarias da Cidade do Rio de Janeiro, em 2017.

Para a AEL a Feira do Livro deveria ser montada em regiões carentes de acesso a livros e não em  áreas repletas de livrarias que pagam impostos.  A própria ABL já faz feiras em Queimados, Frequesia e Nova Iguaçu. A possibilidade da  AEL  também organizar feiras em cidades no interior do Estado do Rio   foi discutida na última reunião; isso  poderia ser feito  junto com a LIBRE, que já tem experiência em feiras em outras cidades como São Paulo e Belo Horizonte.

Para o presidente  Antonio Carlos um problema é que as reuniões da AEL são sempre frequentadas por meia dúzia de livreiros que se revezam na diretoria da entidade enquanto os demais não aparecem por mais que sejam convocados; “uma luta inglória”, conclui.

 

2/4/2019