Sementes da diversidade
Primavera dos Livros, feira anual promovida pela Liga das Editoras Independentes – LIBRE – desde 2001, abre espaço para livrarias, distribuidoras e até encadernadoras prestigiando a ecologia do mercado livreiro.
Tomaz Adour, presidente da LIBRE, com A Nova California, de Lima Barreto, lançamento da Brasiliares.
Desde 2022 livrarias participam da Primavera, se venderem obras de editoras da LIBRE, em geral as de fora do estado que têm custo alto para operar no Rio, e não exporem saldos ou títulos de grandes editoras, que têm outros espaços de venda. O mesmo vale para as distribuidoras como a Capital das Letras, que operou nesta edição com obras da Editora 34. Claudio Gonzaga, da Livraria Anita Garibaldi, no Centro, em São Paulo, participou pela primeira vez da Primavera carioca, depois de uma edição paulista no galpão do Movimento Sem Terra. Diz que valeu a pena, financeiramente, por dividir o estande com outro expositor – editora Bambual – o que diminuiu os custos, e pela possibilidade de fazer contatos inclusive com vários autores. Ele, que também edita livros de segmentação marxista, acredita que a localização da feira em espaço de trânsito de público como os jardins do Museu da República favorece as vendas ao contrário da experiência em ambiente fechado como a edição da Primavera no Galpão do MST em São Paulo onde só entra quem tem conhecimento do evento. Já Daiana Maia, da livraria infantil Bicho que Lê, na Tijuca, também pela primeira vez na edição carioca, representando duas editoras, esperava mais, principalmente na parte de divulgação do evento pela cidade, e acredita que feiras parceiras no mesmo local, como uma de gastronomia incrementariam a Primavera. Mas gostou do resultado das vendas através de um lançamento da livraria feito na feira. Outros livreiros participaram como visitantes, como os das duas novas livrarias da cidade, Martha Ribas, da Janela, e David Kestenberg, da Casa 11, que disse ter gasto consideravelmente na feira e saido com várias sacolas de livros para sua loja aproveitando o desconto para quem tem CNPJ. Afora livreiros e editores, desde 2022, a Primavera conta com um segmento do mercado pouco visto: o de encadernadores. A convite da LIBRE seis artesãs, que também encadernam e recuperam livros expôe agendas, blocos de notas e outros artigos de papelaria reunidas sob a marca Gracie. Tomaz Adour, presidente da LIBRE, disse que a Primavera deste ano, com o título Livros para ler o mundo, foi pior do que a do ano passado por não terem conseguido, junto ao Museu da República, que ela acontecesse no começo do mês quando se tem mais dinheiro: “Isso faz uma diferença brutal”. Segundo ele, 80% do público conhece a feira de outros anos e espera ansiosamente para ver os lançamentos e o grande diferencial da Primavera dos Livros é a bibliodiversidade: “ Aqui se encontram mais de dez mil títulos, onde boa parte pode não ser facilmente acessível para os leitores.” Depois de dois mandatos na presidência da LIBRE, a partir de 2019, Tomaz, editor da Brasiliares, com autores de língua portuguesa, e da Vermelho Marinho, focada em infantojuvenis e paradidáticos, passa o cargo em janeiro para a atual vice-presidente Lizandra Magon de Almeida, da editora Jandaíra. Para ele, a pandemia com a quebra de “editoras maravilhosas da LIBRE” e a readaptação e maior profissionalização das outras foi o grande aprendizado em sua gestão na presidência da entidade. Na pandemia a Primavera não aconteceu um ano e teve edição on-line em outro sem sucesso, por que, segundo Tomaz, na quarentena os índices de leitura aumentaram, mas a preferência foi por best-sellers: “ Muitas obras independentes da LIBRE não estão em livrarias e precisam de feiras para chegarem ao conhecimento do leitor”. Além do acesso à obras fora da curva a Primavera dos Livros promoveu, nos quatro dias do evento, de quinta a domingo, lançamentos e debates que discutiram desde a Independência do Brasil até o subúrbio na literatura com base no recém lançado Encruzilhadas Suburbanas, da Oficina Raquel, com contos de vários autores sobre a diversidade cultural do subúrbio carioca.
Kleber Oliveira 30/10/2023 |