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As novas livrarias do estado

 

O coletivo da Casa 11, o charme da Travessa, a expansão da Leitura, o sonho da Funambule, dentre outras, mostram  as diferentes estratégias para  gerir uma livraria e divulgar o livro e a leitura na capital e interior do estado.

 

 

Ana Mallet, primeira à esquerda, com uma parte do time da Casa 11, em Laranjeiras.

 

Casa 11

“Mi casa es su casa”, lê-se no tapete à entrada da pequena livraria na galeria no alto da Rua das Laranjeiras, Zona Sul do Rio. Nas paredes, quadros com frases  sobre democracia, liberdade, e a placa azul comum às livrarias cariocas mais à esquerda; “Rua Marielle Franco” homenagem à vereadora assassinada em 2018.

“A livraria só existe porque estamos em um outro momento político no país” diz Ana Mallet, médica cardiologista, que com o marido David Kestemberg, médico gastrologista, arregimentou 116 sócios, a maioria da área médica, para fundar, em junho de 2023, a Casa 11.

O 11 se refere ao número da loja na galeria e a proposta foi “juntar pessoas sem preocupação com o lucro”, diz Ana:“adoro livros”. O lema da Casa ”mais livros e menos farmácias”,  na livraria em que a maior parte dos sócios são médicos chamou atenção da mídia e gerou boa divulgação.

Para Ana, no entanto, livraria e o projeto coletivo não  são novidade. Em 2004, com David e mais 20 sócios  ela inaugurou em Santa Teresa, região central do Rio,  a Largo das Letras que, fechada em 2022, durou 18 anos.

Também formada em Letras, ela sonhava em ter uma livraria “Fiz um curso de cinco dias com o Samuel Seibl da Livraria da Vila -  SP, sobre como abrir uma livraria. Não tinha o capital e resolvi juntar gente para dividir as cotas.”

Na época o investimento foi bem maior, diz, porque a Largo das Letras era em um casarão que precisou de reformas e, ao contrário da Casa 11,  tinha acervo só de livros novos porque os sócios não foram a favor de um sebo: “Acho que isso mudou com a questão da reutilização das coisas”.

“Vendemos bem no início, fizemos eventos com gente como a Lygia Bojunga, Fernando Gabeira, Geraldo Carneiro. Muita coisa porque o movimento espontâneo em Santa Tereza era pequeno”.

O crescente desinteresse das grandes editoras pelas pequenas livrarias, com a compra mais complicada através de distribuidoras, o desânimo de sócios que deixavam a livraria nas mãos  de três ou quatro e a mudança do casal de fundadores, há cinco anos, de Santa Teresa para Laranjeiras provocou o fechamento da Largo das Letras.

Em Laranjeiras, bairro, onde o Presidente Lula teve o maior número de votos no Rio, lembra Ana, a proposta de uma livraria coletiva sem fins lucrativos também teria 20 sócios, mas o número  cresceu para 78 cotas e o total de sócios subiu para 118, já que as cotas podem ser divididas por dois.

“Se a livraria se pagasse já estaria bom”, diz Ana. Mas, com acervo basicamente de doações, além da seção de novos, ela está dando lucro. A integração com a comunidade é fundamental: “em um recorte de 100 dias fizemos 48 eventos e às vezes há dois por dia”. Destes, o mais badalado foi um lançamento do escritor angolano Ondjaki.

A livraria foi visitada por famosos como o escritor português Walter Hugo Mãe, o Padre Henrique Vieira e o best-seller Ruy Castro que deixou escrito em um marcador de páginas da Casa 11,  emoldurado e pendurado na parede, sua frase: “Quando morrer não quero ir para o céu, quero ir para um sebo”.

Nas lojas vizinhas, como a sorveteria e o café ao lado da galeria, a Casa 11 deixa exemplares de livros para despertar o interesse dos clientes. Uma vez por mês, acontece a Biblioteca Voadora em uma praça próxima, com disponibilização de 200 livros: “Na primeira edição emprestamos 60”, diz Ana.

Alguns sócios têm relação mais estreita com o livro como Christina Moreira da Costa, que fundou a Editora Anima, nos anos 80, e escreveu O tempo não para - viva Cazuza; Fátima Giovaninni, com dois livros infantis; e a própria Ana que organizou, com três outros sócios, quatro livros sobre literatura e medicina. Professora universitária, ela diz que, por causa da questão técnica, a criatividade dos alunos fica embotada na área médica e a literatura ajuda a humanizar.

Autores como Roger Chartier, Silvia Castríllon, Antonio Cândido e Umberto Eco que discutem  o papel da literatura são temas dos debates na Casa 11. Ana destaca Antoine Compagnion com Literatura para quê? e Nuccio Ordine, com A utilidade do inútil. “Num mundo tão capitalista, que só  privilegia a produção, você privilegiar o inútil pode ser algo muito positivo”, conclui ela.

 

Travessa

No Centro, região do Rio com o maior número de livrarias, a novidade é a Livraria da Travessa na Avenida Graça Aranha, com loja de rua no tradicional edifício Mayapan, de 1940,  apelidado pelos cariocas de “bolo de noiva”, pela rebuscada arquitetura art déco. A rede tinha uma unidade na Rua 7 de Setembro, inaugurada em 2009 e fechada em dezembro de 2022.

“O Centro do Rio passa por mudanças gigantescas não muito positivas e as vendas caíram terrivelmente na loja da 7 de Setembro, os custos ficaram muito altos” diz o fundador da Travessa, Rui Campos, rede que, no estado, tem três outras lojas na capital e uma em Niterói.

“Mas não queríamos sair do Centro onde inauguramos a primeira loja na Travessa do Ouvidor.”  Pequena rua onde a rede nasceu em 1986 e hoje, na pós-pandemia, tem inúmeras lojas e restaurantes,  que antes lotavam à hora do almoço, fechados.

Há pouco mais de 10 anos a Livraria da Travessa teve quatro lojas no Centro, não muito distantes uma das outras. Além da original na Travessa do Ouvidor, a da 7 de Setembro, uma na Avenida Rio Branco e outra no Centro Cultural do Banco do Brasil fechadas por motivos variados como a requisição do imóvel pelo IPHAN, na Rio Branco.

Para manter a Travessa no Centro, Rui apostou em  local próximo à Biblioteca Nacional,  numa loja com aproxidamente metade do tamanho da anterior e um quinto do valor do aluguel inaugurada em março de 2023. “Temos esperança de que o Centro melhore. Sábado,  conhecido como o dia internacional da venda de livros, a região fica inóspita e nem abrimos”

Ele acredita que a recuperação do comércio mereça mais ênfase por parte das autoridades; “levar moradores para o Centro, apenas, não adianta”. A chegada do VLT, com interdição de muitas ruas ao tráfego, principalmente um grande trecho da avenida Rio Branco pode ter prejudicado o acesso de parte da população aos serviços alí oferecidos, lembra ele.

No endereço atual há menor fluxo de pessoas que na 7 de Setembro mas o público é mais qualificado, diz Rui, e a reabertura de algumas autarquias fechadas na pandemia, programada para este ano,  como a FUNARTE, no Palácio Gustavo Capanema, pode melhorar o movimento.

A Travessa do Centro faz muitos eventos na área jurídica pela proximidade do Fórum e de escritórios de advocacia na região. Mas, o  que teve maior repercussão até agora foi  o lançamento do livro Jesus Negro – o grito antirracista da Bíblia, do Pastor Henrique Vieira.

Para  Maria Eliane Borges de Oliveira, gerente da loja, na rede há 10 anos,  o evento foi um divisor de águas por levar à livraria um público eclético, admirador do Pastor, que ainda não a frequentava;" talvez intimidado pela imponência do prédio em rua de poucas casas comerciais."

Para ela, que veio da loja da 7 de Setembro, a grande diferença é que na nova Travessa o cliente  é mais assertivo; “entra e sabe o que quer”. No começo sentiu falta dos consumidores de administração/autoajuda que agora  já são parte da clientela.

Situada há dois quarteirões do Edifício Marquês do Herval, na Avenida Rio Branco, onde estão as livrarias Berinjela, Disal, Leonardo da Vinci e Martins Fontes, Eliane vê a localização como positiva pois recebe clientes indicados por elas.

“Sou suspeita para falar”, diz “mas prefiro muito mais essa loja que a anterior na 7 de Setembro principalmente por causa do sol que entra à tarde iluminando toda a loja”, projetada pela dupla de arquitetos Bel Lobo e Bob Neri, com as cores cinza escuro e vermelho, tradicionais da Travessa.

 

Blooks

Em Niterói a nova loja da Blooks em Icaraí, inaugurada em julho de 2023  eleva para quatro o número de livrarias no bairro que tem também a Panini, Schoffer e Travessa. A rede carioca foi para a cidade vizinha em  2016 com loja na Reserva Cultural, bairro de São Domingos, perto da estação das Barcas.

Elisa Ventura, que fundou a rede em 2008, com a primeira loja no Espaço Itaú de Cinema, na  Praia de Botafogo, Zona Sul do Rio, lembra que a política da livraria é de estar em espaços com outras ofertas culturais como foi a opção pela Reserva, em Niterói, onde também há cinemas.

“Mas com a pandemia a Blooks foi a livraria que mais sofreu devido à demora do retorno do público às salas de exibição e consequentemente aos locais da livraria. Tivemos de esperar cerca de dois anos”. Mesmo com a retomada, a situação da livraria, em local de pouca circulação espontânea não melhorou.

Mas ao vencer um edital a  unidade niteroiense da rede  foi, em junho, para a reitoria da universidade da UFF na Praia de Icaraí, onde,  dentro da proposta original há teatro, cinema e galeria de arte. Alí, são promovidos vários eventos, recentemente foi inaugurado o Café da Livraria.

“Fez uma grande diferença porque a Reserva, onde estávamos não é local de passagem”, diz Elisa. Ela destaca que  o niteroiense é muito leitor e prestigia o comércio local  numa relação de afeto com as livrarias, e opta menos pela compra on-line.  Garante que apesar das outras 3 livrarias em Icaraí há público para todo mundo.

“O problema”, para ela, “são as editoras que vendem com desconto e transformam as livrarias em um showroom”. Elisa reclama também delas não lançarem livros em Niterói; “ ainda não pegaram a visão de que Niterói é uma outra cidade, diferente do Rio de Janeiro.” Com isso entre os lançamentos na Blooks niteroiense  predominam autores locais e publicações da EdUff

Mas, com o lema “livraria da diversidade, da multiplicidade de vozes e da democracia” não faltam interessados em lançar seus livros alí. Além de clubes de leitura a loja tem o debate Filosofia à Beira Mar, que em dezembro discutiu o tema “O existencialismo é um humanismo”, em torno de Sartre, e em janeiro, “O manifesto comunista” em torno de Marx e Engels.


Leitura

Inaugurada em novembro de 2023 a nova Leitura, em Niterói, é a décima quinta da rede no estado do Rio; 12 estão na capital, há uma em São João do Meriti e  outra em Campos dos Goytacazes. Com 4l0 m² de extensão, mais um mezanino, ela tem 26 funcionários.

A Leitura foi a rede que mais cresceu nos últimos anos e ganhou o título de maior do país. Antes ele foi da Saraiva, que teve falência decratada  em 2023. No auge do sucesso a  rede paulista teve 12 lojas na capital fluminense , como tem a Leitura.

A última livraria da Saraiva no estado do Rio, inaugurada em 2013 e  fechada no inicio de 2023  foi a do Plaza Shopping, local onde a Leitura inaugurou a nova loja e, segundo o sócio Bernardo Ribeiro Teles, é o shopping que disputa com o Rio Sul, no Rio, o terceiro lugar entre os mais concorridos do estado, atrás do Barra Shopping e Shopping Leblon, também no Rio.

Bernardo diz que a livraria segue o padrão das outras lojas da rede com mix de produtos; além de livros, tem  papelaria e presentes. Não houve curadoria especial para o público niteroiense que nesse shopping, no Centro, em frente à Estação das Barcas é, segundo ele, bem misturado.

Como nas outras lojas da rede, em Niterói também haverá eventos para integrar a livraria com a comunidade, de lançamentos a contação de histórias, mas só retornam em fevereiro, porque, segundo Bernardo, este mês a concentração será na volta às aulas.

O primeiro evento da loja, em dezembro, foi com o Padre Marcelo Rossi, para o lançamento do livro Amorização – a cura do coração que, segundo Bernardo, atraiu cerca de duas mil pessoas que se reuniram no cinema disponibilizado pelo shopping ao lado da livraria.

“A Leitura acredita no poder transformador dos livros e na importância das livrarias na divulgação, principalmente nos lançamentos.” Diz Marcus Teles, o presidente da rede mineira, fundada em 1967, em Belo Horizonte, que a princípio vendia novos e usados.

“As livrarias estão em constante transformação, além da venda nas lojas precisam atuar nas vendas on-line e mídias sociais.”diz Marcus lembrando que os eventos literários podem aprimorar a interação dos clientes com a loja e que “é preciso investir no treinamento da equipe”.

 

D’ Lopes

Inaugurada em outubro de 2023  na Taquara, em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio, a D’Lopes é uma iniciativa do livreiro Jaiel Lopes, há 33 anos no mercado evangélico, mas é  uma livraria aberta a todos gêneros.

Segundo ele, no curto espaço de tempo desde a inauguração ainda não consegue ter um perfil do público da região onde ela é a única livraria, mas pode citar como mais vendidos autores que dominam as listas dos best-sellers como Cooleen Hoover, Julia Quinn e Stephen King, “e a Bíblia, o livro mais vendido do mundo”.

Durante 10 anos ele gerenciou a livraria da Sociedade Bíblica do Brasil, no Centro do Rio, e há dois anos  faz o que chama de “trabalho de formiguinha” com a venda dos produtos da SBB para livrarias não seculares entre Rio de Janeiro e Espírito Santo, onde cita a Leitura como sua melhor cliente.

Lopes , que é pernambucano, entrou para o comércio de livros em 1980, em Recife, na Livraria Manancial, para depois ser sócio, em 1990,  de uma filial da rede em Bélem, PA. Depois, trabalhou em gravadora do segmento evangélico e entrou no ramo de livros gerais através de um sebo.

Na Taquara, um conhecido vendia livros usados em uma banca de jornal e o negócio lhe foi oferecido e aceito por insistência da sua mulher, passando a se chamar Banca da Fátima e ainda funciona perto da D’Lopes. Esta, no entanto, trabalha com livros novos, adquiridos principalmente através da distribuidora Capital das Letras.

A livraria iniciou contatos para os primeiros lançamentos com autores locais e já tem café espresso para os clientes. “Aos poucos as pessoas estão conhecendo a livraria”, diz Lopes, que atribui a uma divulgação da página Taquara News, na internet, um incremento nas vendas. O texto dizia : “ A Taquara está passando por mudanças incríveis. Agora em seu bairro temos a D’Lopes Livraria e Papelaria. Explore uma variedade de gêneros, incluindo romances, ficção, terror, religiosos e infantis.”

 

Janela

A nova Janela foi inaugurada em abril de 2023 no Shopping da Gávea, Zona Sul do Rio, espaço onde por 41 anos existiu a Timbre, presente nas listas das melhores livrarias cariocas, aberta em 1979 e fechada em 2021, e onde, também desde 1979, está a mais tradicional livraria infantil da cidade a Malasartes.

A  segunda loja tem a mesma identidade visual da primeira Janela, que está no Jardim Botânico, Zona Sul do Rio, desde 2020. Foi inaugurada por Martha Ribas e Leticia Bosisio, agora com mais duas sócias, Antonia Moura e Renata Maciel, que, frequentadoras assíduas da primeira, decidiram ser donas da segunda.

Embora a primeira Janela seja uma livraria de rua e a segunda localizada em um shopping a proposta de promover encontros é a mesma com mesas do café à frente da nova loja, que tem também uma seção decorada especialmente para o público infantil.

“O DNA da Janela desde o início é o presencial, é se permitir parar um minuto, ouvir, conhecer, refletir e se encantar”, diz a sócia Martha Ribas, “Por isso, optamos ter o café na entrada da livraria, assim como fizemos no Jardim Botânico, para que as pessoas possam se reunir, se desconectar e aproveitar o momento.”

Além de encontros informais entre clientes há os encontros com famosos, como Carla Madeira, mais lida escritora de ficção brasileira, hoje, que participou de debate no cinema ao lado da livraria no dia da inauguração e emplacou dois títulos na listas dos mais vendidos da loja em 2023; Tudo é Rio, em primeiro lugar e A natureza da mordida, em terceiro.

A atriz Andrea Beltrão foi outra que esteve por lá, este ano, para o lançamento do seu primeiro livro Antígona: Ela está entre nós,  que transpõe a tragédia grega para nossos dias, acompanhado pela exibição do longa-metragem  Antígona 442 A.C, de 2021,  e debate em seguida com o diretor Maurício Farias.

 

Córdula

Em março de 2024,  São João do Meriti, município na região metropolitana do Rio de Janeiro, há um tempo sem livrarias, terá a inauguração da Livraria  Córdula. Segundo o fundador, Diogo Santana, atividades presenciais e on-line em torno dela começam em fevereiro: “é para isso que livrarias existem, para integrar pessoas. Não reduzam o ofício de vender livros a mera banalidade comercial”.

Primeiro haverá um minicurso sobre filosofia da saúde, depois, outro mais extenso, de seis meses, sobre a história da filosofia. Dois clubes de leitura estão programados, um em torno de Peles negras, máscaras brancas, do psiquiatra argelino  Franz Fannon e o outro   com Macumba, de Bardo Rodrigues Santos, escritor de São Gonçalo, RJ.

Formado em filosofia, Diogo  entrou no mercado editorial trabalhando na Livraria da Travessa e em 2019 abriu a Córdula on-line. A livraria virtual participou de eventos como o Flidan – Festival Literário da Diáspora Africana de São João do Meriti, Feira da Providência e Expo Religião e, durante a pandemia, promoveu lives com autores da Baixada Fluminense.

Autor de cinco livros autoeditados, que vão dos contos, à filosofia da religião ele continua investindo na escrita:  “Quando descobri entre os livros meus primeiros amigos, assumi um compromisso com a palavra por toda a vida e, depois,  como livreiro, ganhei muitos novos amigos, através de longas conversas sobre livros.”

“A livraria tem um ímpeto educativo” diz ele, “quem não se interessa passa a se interessar”. Diogo atribui a dois livreiros da Travessa, Flamínio Lobo e Roberto Rosa, o seu  gosto pela literatura; com a  formação de filósofo, só  tinha interesse por ciências humanas, mas quando foi trabalhar na rede carioca eles o introduziram na literatura.

Das livrarias que existiram em sua região, Diogo lembra de uma esotérica e duas evangélicas. Diz que alí a população tem características conservadoras, mas entre os clientes da Córdula há uma boa parcela com interesse em temas afro devido à participação da livraria na FLIDAN. Também há uma aproximação dos alunos de uma escola de teatro da região.

A princípio Diogo pretende levar a Córdula, que remete à coração, em latim, sozinho. E não se intimida: “Dentro desse espaço vou poder exercer todas as funções relacionadas ao livro, que são apaixonantes. Por isso o espaço é fundamental e necessário.”

 

Funambule

Em fevereiro de 2024 , o município de Petrópolis, ao norte do Rio de Janeiro irá ganhar uma livraria inspirada na Shakeaspeare and Company, icônica livraria de Paris, na lista das mais bonitas do mundo.

A iniciativa é de Heberti Rodrigo de Azevedo Lino, que desde 2021 tem a Funambule na internet e agora irá trazê-la para o mundo real  com a união de três paixões: livros, café e pessoas.

Num casarão em terreno tranquilo, há dois quilômetros do Centro de Petrópolis e a um quilometro e meio de sua casa Heberti acompanha os retoques finais da firma contratada para dar a forma ao seu sonho.

Apesar de advertido de que o mercado não está fácil para livrarias em Petrópolis ele, que tem curso de barista, vai arriscar vendendo livros, café e produtos artesanais da cidade como chocolate.

Funambule vem do ver funambular, andar na corda bamba, geralmente com a ideia de espetáculo como fez o francês Phillip Petit, em 1974, com uma caminhada ilegal sobre um cabo entre as torres gêmeas de Nova Iorque, lembra Heberti.

Mas para ele a palavra tem mais a conatação de desafiar o impossível. A experiência com a loja on-line onde vende literatura nacional e estrangeira, mais literatura infantil  o fez acreditar na ideia de sucesso com a livraria física.

Filho de militar, há vinte anos ele se desligou dos estudos no Instituto Militar de Engenharia para mergulhar na literatura: “iniciei a leitura apaixonada de autores que foram aonde poucos vão. A vida deve ser vivida perigosamente”

“Na leitura encontrei também o que não encontrava em meu círculo de relacionamentos: o incentivo a seguir em busca de meu próprio caminho” e na busca foi para Paris em 2018 conhecer os cafés e bares da cidade.

“Estava lendo muitos autores franceses, e deu vontade de conhecer, fomos  nas férias de fim de ano.  Encontrei lá o ambiente que acolhia o lado meu de escritor. Nunca fui para fazer turismo”. Na livraria Shakeaspeare and Ccompany fez amizade com um grupo de escritores que incentivam outros escritores, experiência que quer replicar na Funambule.

Depois de assimilar essas novidades que estão acontecendo em sua vida Heberti pretende se lançar como escritor mas sem ainda saber em qual gênero se enquadra. Politicamente ele diz estar também fora da caixa.

“Não tenho posicionamento político, não sou de direita ou de esquerda, muito do que estamos vivendo para mim não passa de modismo. Boa literatura, não tem sexo, não tem nacionalidade, não tem cor, lia o livro porque me tocava.”, diz.

A Funambule irá reunir elementos do Brasil e da França, países sem os quais não haveria essa que, para ele, é uma das mais importantes e belas travessias de sua vida. O acervo terá entre quatro e cinco mil livros e o espaço será usado para saraus, lançamentos e clubes do livro.

Ele já foi procurado por um grupo que se autodenomina Death Café que discute, “sem morbidez” temas como a vida e a morte que fazia reuniões itinerantes e agora pretende se reunir uma vez por mês na livraria.

“A livraria nem abriu e já estou conhecendo muita coisa que não conheci morando aqui em 15 anos. Viver num ambiente onde as pessoas leem  é sempre melhor.”

 

Kleber Oliveira

25/1/2024