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O Rio é livro
Um memorável espetáculo de teatro, música, poesia e tecnologia celebrou a vocação carioca para as letras e deu início ao ano em que, escolhida pela UNESCO, a cidade será a primeira de língua portuguesa a reinar como Capital Mundial do Livro. Homenagem ao livro infantil: do Sítio do Pica-Pau Amarelo à Turma da Mônica
Às portas do Teatro Carlos Gomes, o Secretário Municipal de Cultura, Lucas Padilha, recebeu nesta quarta-feira, 23, os parabéns pelo evento – do qual participou na elaboração do roteiro - e ouviu o comentário de Elisa Ventura, da Blooks: “Faltou o devido destaque para as livrarias da cidade.” O Secretário lembrou que elas foram citadas em vários momentos da apresentação. Disse que terão mais proeminência na Bienal do Livro, em junho, e informou que, nos próximos dias, será publicado um edital de interesse especial para livrarias, como parte da campanha. Houve, de fato, referência a elas, mas sem o espaço de fala que tiveram representantes de outros segmentos livreiros como os do Sindicato Nacional de Editores de Livros, da Câmara Brasileira do Livro, da Biblioteca Nacional e da Academia Brasileira de Letras que subiram ao palco para discursar. O prefeito Eduardo Paes disse que há muito por fazer neste ano como apoiar autores locais, fortalecer o setor editorial e fomentar as livrarias ao receber a chave simbólica da Capital Mundial do Livro das mãos da prefeita Jeanne Barseghian, de Estrasburgo - cidade francesa que antecedeu o Rio com o título. Mais antigo teatro carioca, com 152 anos, o Carlos Gomes, entregue reformado pela prefeitura em 2024, recebeu cerca de 700 convidados. O evento começou ao som de Valsa de uma cidade, de Ismael Netto e Antonio Maria e fechou com Aquele abraço, de Gilberto Gil, cuja frase inicial inspirou o slogan da campanha: “O Rio de Janeiro continua lendo.” No palco, três livros gigantes sobrepostos formaram a escada de acesso ao local onde discursaram os convidados; ao fundo, um telão em formato de livro aberto ilustrou o evento com alta tecnologia, complementado por adereços de palco sob a direção de Edson Erdmann, diretor, entre outros, do Criança Esperança, da TV Globo. A encenação teatral, no início, percorreu dos papiros do Egito aos escritores nacionais, clássicos e contemporâneos: “Alguém lê Krenak na Lapa, no trem Conceição” – o ator Thiago Lacerda recitou o poema A cidade e os Livros, de Antonio Cícero. Em seguida, uma caixa vinda de Lisboa com livros enviados por países de língua portuguesa - simbolizando o apoio internacional dado ao Rio, foi aberta, seguida pela primeira atração musical, o fado Os Argonautas, de Caetano Veloso, interpretado por Camila Amarante com o refrão de Fernando Pessoa; “navegar é preciso, viver não é preciso”. O ator Gregório Duvivier lembrou da vocação literária do Rio embora muitos liguem a cidade à música e ao carnaval citando o conto O bebê de tarlatana rosa, de João do Rio, como muitos que unem carnaval e literatura; “ É uma cidade onde Brás Cubas certamente se encontrou em algum lugar com Macabéia.” Para a secretária da diretoria da Associação Estadual de Livrarias, Susana Fernandes, presente no evento junto com o presidente em exercício da entidade, Ivan Errante, um dos melhores momentos foi quando Gregório Duvivier, acompanhado pela Camerata Concertante, interpretou Concerto para máquina de escrever, do norte-americano Leroy Anderson, em que os ruídos feitos pela antecessora do computador são parte da obra. A poeta Elisa Lucinda declamou versos seus e de autores como Antonio Vieira - “não é o padre” -, Adélia Prado e Cecília Meireles; “uma pessoa branca, mas uma pessoa maravilhosa. Um pouquinho de reparação histórica”, brincou. E falou sério ao lembrar do pai, “Ele trouxe o livro para dentro de casa e dizia; ‘é a nova abolição’.” A dança foi representada com uma homenagem à FLUP – Feira Literária das Periferias, evento que promove a leitura em comunidades marginalizadas. Jovens se apresentaram com coreografia do passinho, ao som da música rap. Divididos como capítulos de um livro, o evento teve um dos momentos mais emocionantes ao abordar a literatura infantil com exibição das capas de clássicos ao som de músicas como Sítio do Pica-Pau Amarelo, de Gilberto Gil, A casa, de Vinicius de Moraes e História de uma gata, de Chico Buarque, com a reunião dos personagens no palco. Como 23 de abril, além de ser o Dia Internacional do Livro é também o Dia de São Jorge, o evento teve entre as atrações musicais uma aplaudida apresentação de Fernanda Abreu que interpretou um clássico do seu repertório: Jorge da Capadócia, de Jorge Ben Jor. “Não devemos servir de exemplo a ninguém, mas devemos servir de lição”. A frase de Mário de Andrade, dita em carta à Carlos Drummond de Andrade, foi citada pelo prefeito Eduardo Paes no encerramento do evento: “Servir lições, mais que ser um exemplo único é o objetivo desse Rio Capital."
Kleber Oliveira para AELRJ 24/04/2025 |