Livraria Antonio Gramsci se filia à AEL |
A mais nova, e uma das menores, livraria do Centro completa um ano e mostra que segmentação é uma chave do mercado livreiro atual. Batizada em homenagem ao teórico marxista italiano ela é uma livraria de "esquerda plural".
Segmentação de esquerda e preços populares na divulgação de idéias.
"Ninguém imaginaria que poderia haver essa livraria minúscula nesses tempos e ela está se sustentando e divulgando vários livros sobre temas que nos são caros", comemora o italiano Vito Gianotti, há 26 anos no Brasil. Aqui ele já foi metalúrgico e já lançou 20 livros. A Antonio Gramsci fica no fundo da galeria do Teatro Dulcina na Cinelândia e pertence ao Núcleo Piratininga de Comunicação –NPC - que funciona no mesmo edifício e trabalha para melhorar a comunicação de grupos sindicais, coletivos e movimentos comunitários. "O objetivo da livraria é divulgar uma visão de mundo e de valores. Queremos um mundo livre, justo, solidário e qualquer livro que acumular esse sentido é interessante. O nosso objetivo não é econômico, é sóciopolítico.",explica Vito. A divulgação da Gramsci é feita através de um boletim eletrônico do NPC sobre comunicação dos trabalhadores, que existe há 12 anos com cerca de 20 mil endereços. Também há um boletim especial sobre a livraria, divulgado semanalmente. A Gramsci participou da 4ª edição do Roteiro das Livrarias do Centro, da AEL, e tem tido retorno. "Para nós o Roteiro é muito interessante. Tem gente que vem com o mapa na mão, mas ainda podemos melhorar a distribuição dele nos hotéis e escolas das redondezas", diz. Mensalmente a livraria faz um evento que atrai públco médio de 30 pessoas. "Não é uma palestra ou um lançamento, é algo intermediário ao qual demos o nome de Diálogos na Gramsci e convidamos autores para discutirem sua obra com o público." Para mostrar a política da Gramsci, Vito cita a editora Expressão Popular: "Para o livreiro comum ela não é interessante porque vende livros a 12 reais e o lucro que pode dar é muito pequeno. Nela destaco o livro de Alexandre Kolontai: A Nova Mulher e a Moral Sexual". Segundo ele, esse livro tem sido presenteado aos amigos há 40 anos e desde que descobriu uma edição por 12 reais pela Expressão Popular diz já ter "empurrado" a obra para mais de 60 pessoas através da Antõnio Gramsci. "Então a gente cumpre a função de divulgar o que o livreiro gosta independente do aspecto econômico. Acho que uma livraria no mundo de hoje, no mundo da internet tem a sua função muito personalizada" , conclui. Apesar do nome em homenagem ao autor marxista italiano, a Gramsci faz parte de uma "esquerda plural" segundo Vito: "de Florestan Fernandes a Darcy Ribeiro, de Marx a Josué de Castro.Tem até Dom Helder Câmara, que não é nenhum marxista. Mas é um humanista." Mesmo com as mudanças no mercado com as novas tecnologias e grandes redes Vito acha que há um período intermediário em que o livreiro ainda pode exercer sua função de educador, de orientador da leitura. Uma pessoa que dialoga com o gosto de quem chega. Vito Gianotti acha que a AEL, como associação de classe pode fazer debates sobre temas atuais entre os livreiros; "Qualquer assunto é melhor que deixar as pessoas, frente à televisão, vítimas da Globo. Isso enriquece a cabeça 40 vezes mais que qualquer capítulo de novela".
Vitto Gianotti, metalúrgico, escritor e livreiro.
Livraria Antonio Gramsci |