Ubiratan Machado – jornalista, escritor e bibliófilo Imprimir E-mail

Viajando nas livrarias


Solange Whehaibe

Além de bibliófilo, que não gosta de ser chamado de colecionador, ele é  autor de 20 livros, três sobre   livrarias. A capa do recém lançado, História das Livrarias Cariocas, ilustra essa matéria, já que Ubiratan, como alguns autores,  prefere não aparecer.

 

Carioca da Tijuca, nascido em 1941, Ubiratan Machado é jornalista, tradutor e escritor. Ganhou da Academia Brasileira de Letras a medalha João Ribeiro por serviços   à cultura nacional, serviços que, muitas vezes, são viagens ao nosso passado.

Machado de Assis, por exemplo, é um tema recorrente na obra de Ubiratan. Entre outros livros sobre o romancista, escreveu o dicionário de Machado de Assis, com verbetes sobre a obra do escritor carioca, as pessoas com quem ele se relacionou e os temas de sua literatura.

Hoje, Ubiratan acha que não tem mais fôlego ou idade para outro  projeto desse porte. Mas se tivesse, escreveria para os brasileiros uma enciclopédia sobre o escritor francês Honoré de Balzac e seu livro A comédia humana.

“Meus autores preferidos são romancistas e poetas do século XIX e início do XX: Machado de Assis, Henry James, o insuperável Balzac, Stendhal, Thomas Mann, Baudelaire,.” Entre os brasileiros atuais, gosta de Rubem Fonseca, Dalton Trevisan e dos poetas Ledo Ivo, Ivan Junqueira e Manoel de Barros.

Os livros escritos por Ubiratan não foram best sellers mas segundo ele venderam bem: ”Três tiveram duas edições, fato raro no Brasil: Os Intelectuais e o Espiritismo, Pequeno Guia Histórico das Livrarias Brasileiras e A Vida Literária no Brasil durante o Romantismo”.

Seu maior sucesso é Chico Xavier, uma vida de amor, na sexta edição, com 30 mil exemplares vendidos: “Minha família era espírita e sempre tive interesse pelo insólito. Desde que comecei a ler, fazia anotações. No fim de muitos anos, verifiquei que tinha um rico material”.

Em 83,  esse arquivo foi base de seu primeiro livro, Os Intelectuais e o Espiritismo, precursor da história da doutrina no Brasil. Depois, na mesma linha, veio Diálogo com o invisível, onde além de relatos sobre  brasileiros há os de estrangeiros como Thomas Mann e Carl Jung.

Livrarias também são tema recorrente na obra de Ubiratan Machado. Lançou  três títulos: A Etiqueta de livros no Brasil, Pequeno guia histórico das livrarias brasileiras e História das livrarias cariocas.  Agora, porém, não pretende voltar mais ao tema.

História das Livrarias Cariocas, lançado no fim de 2012 é um  volume grande de 510 páginas que acompanha o comércio de livros no Rio, desde o primeiro ponto de vendas dos jesuítas no alto do Morro do Castelo  no século XVII, até as atuais megastores.

O livro abre com uma frase de um poema de Drummond: ” Livraria, lugar de danação, lugar de descoberta”. Seguida por um texto em que  Monteiro Lobato diz que o livro é o artigo mais difícil de vender: “Suprimam-se os livreiros e estará morto o livro”.

Mas, fora a missão de conduzir a “trêmula chamazinha da cultura”, como disse Monteiro Lobato, o livreiro, para Ubiratan é um comerciante como  os outros: “Preocupado com as vendas, o pagamento dos fornecedores. Cada ramo comercial tem seu valor implícito.”

Ubiratan frequenta livrarias há quase 60 anos. “Comecei por volta dos 14 anos na charmosa década de 50. Com alguns livreiros tive apenas um relacionamento, digamos, comercial.  Com outros, como Alberto Abreu e Margarete Cardoso, , se estabeleceram laços de amizade que persistem até hoje”.

Também ressalta  o excelente relacionamento com Antonio Sant’Anna, Osmar Muller, Jorge Teixeira. Com algum saudosismo,  diz que gostaria de reviver “ o clima mágico das  velhas livrarias, reflexo de um estilo de vida  que desapareceu de forma irremediável: livreiros amigos dos clientes”.

O autor garante que para ...Livrarias Cariocas não fez entrevista formal com nenhum livreiro: “ informações me foram fornecidas de forma espontânea,  em bate-papos despretensiosos, onde eram lembrados aspectos, casos e figuras do passado.”

Para ele, a grande fonte de informações  foi Alberto Abreu, da Livraria Padrão:” Uma autêntica enciclopédia sobre as livrarias cariocas. E também Margarete Cardoso, Osmar Muller, José Germano e tantos outros.”

O livro é fruto de mais de dez anos de pesquisas  feitas, segundo Ubiratan, em três frentes: “minha biblioteca e meu arquivo pessoal, conversas com livreiros e consultas na Biblioteca Nacional, minha principal fonte de informações, catedral do conhecimento, casa de todos os que se interessam pela cultura.”

Mas Ubiratan não tem  hábito de  ler em bibliotecas públicas: “Recorro a elas, apenas como fonte de consulta e pesquisa. Invariavelmente, me dirijo à Biblioteca Nacional, e, com menos constância, ao  Real Gabinete Português de Leitura. “

Como bibliófilo, colecionador de raridades, ele frequenta mais sebos que livrarias: “Os sebos estão desaparecendo, mas ainda restam alguns charmosos, como a Livraria Carioca Rio Antigo. Quanto às livrarias de livros novos, minhas preferidas, no Rio, são a Travessa e a  Leonardo da Vinci. “

Segundo ele, as  livrarias que mais lhe agradam são as que têm um bom acervo de  livros: “livros a mão cheia, Dispenso o café e o tal do wi-fi”. Fora do Brasil as preferidas são  a Lello, no Porto, a Ateneo , em Buenos Aires, uma em Nova York de que não guarda o nome  e várias parisienses.

No Rio, a vida média de uma livraria, de acordo com Ubiratan, é de 5 anos e para ele isso é suficiente: “ Mostra a esperança e a capacidade de sonhar de um grande número de profissionais, que com ou sem sucesso contribuem para a circulação do livro na cidade.”

Sobre sua biblioteca, ele não dá detalhes quanto a números ou valores.  Diz apenas que sendo cliente de livrarias por 60 anos: “é natural que tenha comprado algumas pechinchas, como dizia o Carlos Ribeiro, que hoje são consideradas raridades.”

Também frequenta os leilões promovidos por alguns sebos,  e sempre dá  os lances pessoalmente, nunca por telefone. Mas não é um cliente assíduo. “Vez por outra, quando há algum livro que me interessa muito, tento obtê-lo”.

Ubiratan não gosta do termo colecionador aplicado aos livros: “Compro livros para ler e estudar, não apenas para exibi-los à maneira daquele monge português que tinha onze mil volumes, chamados de as onze mil virgens.”

Fora os livros, ele lê diariamente dois jornais, um do Rio outro de São Paulo:” Complemento indispensável às informações sumárias  dos noticiários da TV “. Acha a internet  às vezes insuperável como banco de dados mas  que é preciso consultá-la com cautela. Quanto ao e-book não pretende ler um.

“Acredito na sobrevivência do livro clássico, em papel, inclusive como uma defesa da liberdade humana. Se eles desaparecerem, os governos totalitários de todo o mundo vão comemorar”. Para Ubiratan, o livro em papel é incontrolável e os meios eletrônicos não, como no caso da China.

Mas ele acha que há muito tempo o Brasil deveria ter uma lei como a Jack Lang, que na França estipula o preço único para o livro novo: ” Creio que aqui isso não aconteceu um pouco, ou muito, por culpa dos interessados, que não se mobilizam.”

 

Os livros sobre livrarias

 

Historia das livrarias cariocas

EDUSP – 2012 – 510 págs -  R$ 135,00

 

Pequeno guia histórico das livrarias do Brasil

Ateliê Editorial – 2009 – 264 págs -  R$ 46,00

 

A etiqueta de livros no Brasil

EDUSP – 2004 – 468 págs -  R$ 248,00