O Livreiro que Amou o Rio Imprimir

O livreiro Manoel Mattos de Pinho Filho, da Livraria Elizart, foi homenageado nesta segunda-feira, 23, na Livraria Folha Seca num evento embalado a choro, que era um dos seus ritmos preferidos e muita alegria, sua característica marcante.

 

Carioca da Saúde, Manoel de Mattos de Pinho Filho, era a cara do Rio. Foto Ana Gawryszewski

Carioca da Saúde, Manoel de Mattos de Pinho Filho, era a cara do Rio. Foto Ana Gawryszewski

 

O evento reuniu cerca de duzentas pessoas na rua do Ouvidor e é uma tradição da Folha Seca no dia de São Jorge e dia Nacional do Choro. Mas Manoel de Pinho falecido dia 14 e assíduo frequentador das rodas de choro no local foi o grande homenageado deste ano.

Entre outros, participaram os músicos Pedro Amorim, Cidinho Sete Cordas e o grupo Já te Digo.O choro Doce de Coco, de Jacó do Bandolim, um dos preferidos de Manoel teve várias execuções e foi lido o depoimento dado por ele pouco antes de morrer.

Cinco horas antes de falecer, Manoel, 61 anos, ditou ao filho Henrique Pinho um testamento sentimental onde cita seus nomes prediletos ligados à música, literatura , cinema, e a sua vida particular. Termina o depoimento dizendo que a grande pessoa de sua vida foi Jesus Cristo.

Cita de Beatles, ao amigo Ney Lopes, de Jacques Tati a Nelson Pereira dos Santos. Jogadores de futebol e livreiros: ” Rodrigo Ferrari, meu amigo, Carlinhos e a turma da Travessa- todos eles, Benjamim, o China, meu amigo, Paulo Roberto , meu amigo...”

Rodrigo Ferrari da Folha Seca diz que “Manel” além de grande amigo foi uma referência em sua vida: “Foi ele quem me ensinou que, mais que vender livros, nós temos uma grande responsabilidade social, na circulação de idéias, na formação de indivíduos pensantes”.

Segundo Rodrigo, uma frase de Manoel até nos últimos dias foi “ A vida é legal” : ”Ele vivia sua paixão pelos livros, pela cidade e pela nossa cultura diariamente, no carinho que demonstrava com todo mundo, na alegria de viver a vida, na forma como conduzia seu negócio.”

O filho Henrique de Pinho trabalhou com o pai na Elizart por 10 anos. Hoje está em outra livraria e diz que o conhecimento transmitido por Manoel sobre o Rio de Janeiro fez com que se tornasse o responsável pelas seção sobre o Rio na loja em que trabalha.

Mas acha que o mais importante do aprendizado com o pai foi a maneira de se relacionar com o livro: “Eu via o cuidado que ele tinha no manuseio do livro. Como fazia para recuperar uma obra . Lixava o livro e tinha um carinho especial, que foi o que mais me marcou.”

Manoel também era cuidadoso no trato pessoal. Segundo o irmão Artur Reis Pinho, sócio na Elizart:“ Ele sempre foi um cara equilibrado, sensato, toda vez que vinha algum jornalista a gente passava para ele porque tinha a coisa certa a dizer.”

Este ano a livraria Elizart completa 40 anos. Foi fundada em 14 de agosto de 72, numa época em que tinha como vizinhas na avenida Marechal Floriano duas outras livrarias que já fecharam; a H. Antunes, de uma editora portuguesa e a Alberjano Torres.

Segundo Artur, cujo pai foi gerente de vários sebos na rua São José, o nome Elizart surgiu da junção do seu próprio nome com o de sua mãe Elizabeth. Diz que as seções que a livraria tem mais carinho são Rio de janeiro, Rio antigo, temas sobre o Brasil,, teatro e cinema.

 

Choro e alegria na homenagem ao livreiro Manoel da Elizart - foto Mariana Muller

Choro e alegria na homenagem ao livreiro Manoel da Elizart - foto Mariana Muller