Crise e Consenso Imprimir

A 25ª Convenção Nacional de Livrarias, na Academia Paulista de Letras, refletiu a crise econômica mas foi histórica pelo momento de união entre livreiros e editores para aprovação da lei que regula o preço do livro. Sinalizou, no entanto, que as livrarias  precisam se reformular agora. Não podem esperar pela lei.

A Senadora Fátima Bernardes no centro ladeada pelos presidentes da AEL,ANL,CBL e SNEL, entre outros

 

O número de participantes foi menor que em edições anteriores. Livreiros do Rio se contavam nos dedos de uma só mão. Os estandes de editoras no salão Rodada de Negócios também. Agora, livrarias e editoras passam por dificuldades. O número de livros dados de cortesia aos participantes foi reduzido a um título ; " Ative sua bondade - transformando o mundo através da prática do bem", de Shari Arison.

No entanto para transformar a realidade das livrarias, mais que valores tradicionais como  bom atendimento, é preciso se adaptar aos novos tempos onde é difícil atrair o  cliente para a loja quando ele pode comprar com facilidade pela internet, como disseram os debatedores.

O tema da Convenção foi " Crie na Crise" mas, para o presidente da AEL, Glaucio Pereira,   faltaram mais idéias práticas e sobrou merchandising em showcases de empresas que não são livrarias . Para ele é necessário realizar um fórum com livreiros ,editores e também autores, para que as três partes que compõem o mercado se conheçam melhor.

Para a vice presidente da AEL , Solange Wehaibe, a Convenção foi positiva com  um  formato mais enxuto e pontos altos e baixos .O editor do PublishNews, Leonardo Neto, que cobriu a Convenção pela segunda vez, aprovou e acredita que o fato de reunir os livreiros já valida o encontro mas sugere ações práticas como workshops nas próximas edições.

Livraria como entretenimento

No painel de abertura com o tema "As livrarias e os novos tempos", Sergio Herz, da Cultura disse que hoje a venda de livros em livrarias é consequência da conquista do tempo livre do cliente . Para obter esse tempo as livrarias têm de criar meios de levá-lo à loja e detê-lo em um ecossistema de entretenimento. Na Cultura, o restaurante, é uma atração que,segundo Sérgio, responde por cerca de 30% do faturamento da loja.

Gustavo Carrer, do SEBRAE, usou o termo playground cultural para caracterizar a livraria dos novos tempos no paínel "Inovação no Varejo" . Segundo ele, nesse novo modelo o cliente poderá passar por uma experiência maior que a de apenas circular por um conjunto de estantes.

Eliza Ventura, da Blooks disse, no paínel "Marketing e Criatividade", que um dos fatores do sucesso da sua livraria é a quantidade de eventos ; " Se o evento reune cinco pessoas, são cinco pessoas que não estariam alí se ele não ocorresse". Mas lembrou que a Blooks também sai para participar de eventos e se coloca onde as coisas acontecem.

Para Ednilson Martins, homenageado na abertura da Convenção pelo novo presidente da ANL, Afonso Martin, por sua gestão a frente da identidade por dois mandatos consecutivos, menos é mais. Sua livraria, a Cortez, foi reduzida de dois pisos para um e hoje, com metade da equipe , mantém a mesma venda, segundo ele.

Ednilson disse que a saída foi fazer parcerias com editoras e trabalhar em escolas que valorizam o livro " Negociar com editoras que tratam a livraria como parceira e não como depósito de livros". Para ele, formar leitores é o mais importante: na Cortêz foi criado o "Café com letras" em que um funcionário lê um livro e discute com os colegas.

A relação com  funcionários foi tema da apresentação "O livreiro como valor diferencial"  de Juliana Ribeiro da Allure Assessoria no encerramento da Convenção. Ela falou do exemplo positivo como a maneira mais eficaz de se produzir e exigir resultado dos colaboradores que então se tornam parceiros e têm prazer ao alcançar seu melhor resultado.

" A livraria deve ser um ambiente naturalmente lúdico" disse ela. "Alí devem ser encontrados "produtos" raros com alta demanda por todos nós como engajamento, simpatia, empatia, entusiasmo e atenção." Para os donos de livraria deixou a dica; " Seja o exemplo".

Para o serviço burocrático , duas empresas, a Books in Print, presente no paínel  "Inovação no Varejo" e a Mercado Editorial, presente na Rodada de Negócios apresentaram suas ferramentas  de distribuição de metadados do mercado. Com elas, os livreiros acabam com o problema de informações  erradas sobre livros no sistema das livrarias que prejudicam as vendas.

A lei Drummond

O ponto alto da Convenção foi o debate sobre o projeto de lei que regulamenta o preço do livro de autoria da Senadora Fátima Bezerra. Depois de anos de posicionamento contra a lei o Sindicato Nacional dos Editores de Livros, sob a presidência de Marcos Pereira, se uniu aos livreiros na defesa do projeto que acaba com os descontos abusivos.

Todas as entidades presentes se mostraram a favor da lei que, segundo a Senadora Fátima Bezerra irá beneficiar principalmente o leitor mas que também irá criar um ambiente econômico mais saudável para o setor livreiro.

A lei estipula que livros novos devem ser vendidos pelo mesmo preço em qualquer canal de vendas até 18 meses após o lançamento. Os descontos não podem ultrapassar 10%. Para Marcos Pereira, do SNEL, a princípio o consumidor perde os grandes descontos de até 40% das grandes redes, mas a médio prazo, as editoras irão encontrar o preço ideal.

A Senadora Fátima Bezerra acredita que até o final do ano o projeto de lei deva ser encaminhado à Comissão de Assuntos Econômicos e até março de 2016 estará na Câmara dos Deputados para votação. A Senadora está confiante que a lei será aprovado mas falou da necessidade de conscientizar a população para que seus representantes em Brasília votem a favor.

O projeto da lei do preço fixo beneficiará pequenas e médias livrarias protegendo a bibliodiversidade. A lei existe na Argentina, Alemanha e França entre outros países e aqui , se os herdeiros do poeta permitirem será batizada de Lei Drummond, por sugestão do presidente da AEL, Glaucio Pereira.