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Primavera no MAR

 

Após 20 anos no Museu da República, no Catete, a Primavera dos Livros, — maior feira de editores independentes do país — passou, na edição 2025, para o Museu de Arte do Rio, na Praça Mauá, onde fica até domingo com participação de 50 editoras  e entrada franca.

 

 

Fundado em 2013, o MAR  tem se dedicado à arte contemporânea periférica,  como na mostra em cartaz Nossa Vida Bantu, sobre a influência cultural africana no Brasil, e na anterior,  Funk – um grito de ousadia e liberdade, sobre o movimento musical carioca surgido nas periferias. Agora o museu  abriu o pilotis  para dar espaço à bibliodiversidade do mercado editorial independente, muitas vezes ausente nas livrarias.

Na abertura, nesta quinta-feira,  voltada para os agentes do mercado,  Lizandra de Almeida,  presidente da Liga Brasileira de Editores – LIBRE, organizadora do evento, disse que cerca de 2 500 livros são lançados no Brasil por mês.

Além da falta de espaço para todos nas livrarias há também, segundo ela, questões que afetam especialmente a venda dos livros infantis: “As referências para a compra são o que os pais leram quando criança ou o que é mostrado na televisão. É preciso ouvir novas vozes”.

No Brasil, segundo ela,  as compras públicas movimentam a maior parte do mercado, sendo essencial que os editais contemplem as pequenas editoras: “A prioridade da lei de licitação não é a bibliodiversidade, mas o preço mais baixo”. Isso favorece as grandes editoras e  reduz o olhar regional oferecido pelas independentes.

Lizandra  lembrou que muitos autores de sucesso começaram em editoras independentes e que, como no futebol, ao migrarem para as grandes casas, estas deveriam pagar pelo “passe” deles: “ Descobrir novas vozes, que depois vão embora quando fazem sucesso não parece um bom negócio”.

O presidente da Associação Estadual de Livrarias RJ, Ivan Costa, participou do debate sobre Iniciativas para aumentar a capilaridade na venda de livros com relato sobre sua trajetória empreendedora. Ele começou com a venda de livros à noite, no chão em frente à Estação do Metrô Carioca, após expediente na Livraria Berinjela, no Centro.

Depois, tornou-se O Livreiro Errante vendendo livros em uma bicicleta, até inaugurar a Livraria Belle Époque no Méier. Segundo Ivan, desde o tempo em que expunha no chão, os livros reuniam   pessoas —   houve até a comemoração do aniversário de um cliente junto ao acervo em frente ao Metrô.

“As livrarias devem ser reconhecidas como pontos de cultura”, disse Ivan. “Nós movimentamos o cenário cultural com lançamentos, saraus, cineclubes e outras atividades.  Toda quarta-feira  realizamos um sarau na Belle, o dia mais movimentado. Saio de lá às duas da manhã e ainda há quem compre livros nesse horário”.

O presidente da AELRJ aproveitou para convocar os agentes do mercado editorial presentes para o 2º Festival das Livrarias do Rio, que irá acontecer de 3 a 6 de dezembro, promovido pela entidade. Na primeira edição o festival uniu músicos, autores, editores para eventos que mostraram que nem só de literatura vivem as livrarias.

No mesmo debate Rosana Montalverne do coletivo de editoras Estante Mineira, anunciou a inauguração no próximo dia 4, na Savassi, em Belo Horizonte, da Livraria Aletria, que leva o nome da sua editora.

Segundo ela, a Estante Mineira surgiu para que as editoras, unidas,  alcançassem lugares onde não  chegariam sozinhas. Citou desde as feiras realizadas no interior do estado até o estande coletivo que possibilitou  a participação dessas pequenas editoras na Bienal Mineira do Livro deste ano.

A editora e livreira Martha Ribas também  anunciou inauguração:  a  terceira unidade da Janela Livraria em novembro em Laranjeiras, no Rio. Uma das fundadoras da LIBRE ela reiterou a importância da cooperação: “Temos que nos entender com o mercado  e apostar em  projetos colaborativos”.

Um exemplo dado por ela  é  localização das sedes da   AELRJ e da LIBRE em espaço compartilhado em  edificio na Cinelândia. Segundo Martha,  o mercado  discute há anos os mesmos temas, mas ela não se preocupa com a concorrência: “ Não vendo logística ou preço; vendo afeto , encontro, conversa”.

“Os pilares da Janela são os eventos”, disse ela. “É uma livraria de bairro,  voltada para a comunidade, que acolhe frequentadores regulares. Não usamos inteligência artificial mas a inteligência artesanal. Há espaço para o erro, que pode até se tornar parte do branding da livraria.”

Em novembro, o  Rio também ganhará  a Livraria Ceci, na Urca, voltada para o público infantil, idealizada por  Fran Junqueira  da Editora Tigrito, a mais jovem participante do painel sobre capilaridade na venda de livros.

Formada em artes visuais, Fran  iniciou no mercado como ilustradora, fundou sua própria editora e  agora deseja abrir a livraria para  vivenciar os encontros descritos pelos colegas: “O trabalho do autor e do editor é solitário;  ficamos imaginando  quem será o leitor. Estou ansiosa para experimentar essa proximidade, ver os eventos acontecerem. Vender livros aproxima , humaniza.”

A Primavera dos Livros acontece até domingo no MAR,  das 10h às 19h. A programação completa, incluindo eventos  para crianças, está disponível aqui.

 

 

Kleber Oliveira

para AELRJ

26/09/2025